30/07/2011

Ipê amarelo

Passando pelo centro de Goiânia, quase que não reparo nessa beleza. Fotografei esse ipê todo florido, com esse tom vívido de amarelo, disputando espaço em meio a tantos obstáculos visuais provocados pelo comércio na Avenida Anhaguera. 








Encontrei três árvores no total. A pressa, o sol escaldante e falta de espaço pra chegar não me deixaram fazer muitas fotos. compartilho aqui o melhor que consegui.

20/07/2011

Observações da vida urbana



Observação nº1

Ela senta ao meu lado, talvez agradecida por encontrar um lugar vago no ônibus da linha 021.

De dentro da bolsa saca um pequeno estojo de maquilagem e com a maestria de quem sempre faz tal coisa nessas condições, começa o trabalho artístico. Uma olhadela de lado e já dá pra perceber que os tons azulados estão entre os seus preferidos, já que estão bem gastos. 

No pequeno espelho fixa o olhar, como se ninguém estivesse por perto, confere o sucesso do seu trabalho, guarda os materiais de volta e aguarda a próxima parada.



Observação nº2

No vasto estacionamento do shopping ainda vazio, a garota leitora encontrou um lugar ao acaso. Sentou-se como se estivesse numa livraria, biblioteca ou coisa parecida.
A cena era de quem estava naquela parte do livro que não poderia ser adiada. Ela parecia aproveitar cada segundo com aquele livro antes do seu possível próximo compromisso. Coisa bonita de ver. Cena rara hoje em dia.


18/07/2011

Natércia Porto!





Naquela manhã de sexta feira, acordei antes que o bichinho da maçã acionasse o despertador. Tinha mala pra fazer, tomar banho, ficar pronto pra viagem em meia hora e ter sorte de chegar à rodoviária e encontrar passagem.


A noite de quinta, com o perdão do trocadilho, havia sido bem legal. Fui com uma amiga num aniversário de uma amiga dela, tipo essas coisas de amigo do amigo. Eu nem conhecia a garota, mas isso não importa. Dei muitas risadas, regadas a um bom vinho, comendo fondue de queijo, depois de chocolate, tudo uma delícia.  Acabei chegando tarde em casa, quase direto pra cama.


Com a mochila pronta e banho tomado, chamei um taxi, terminando de me vestir, contando os segundos. Cheguei com tempo, comprei passagem, embarquei. Ufa!


Da mochila, tirei o kit básico para a viagem: fone de ouvido, casaco, boné, óculos escuros, tudo pronto, pluguei o cinto de segurança, aguardando a partida. Mais um final de semana fora de Goiânia. Expectativa da festa e tudo mais. 


Já de aparelho na mão, escolhendo a trilha sonora para a viagem, observava atento as pessoas que entravam a bordo. Eis que de longe avisto uma simpática senhora conhecida, agora se apoiando numa bengala, mas trazendo no rosto a expressão de lucidez e força de que sempre foi portadora. Procurou por seu lugar, fez cara de paisagem em sinal de reprovação a gestos de pessoas deselegantes, que não respeitam idosos, se acomodou finalmente.


Eu olhava discretamente para aquela senhora, que não me reconheceu. Viajei no tempo. Voltei para o ano em que cheguei a Goiânia, naquela euforia de iniciar a vida acadêmica. Lembro exatamente o dia em que Natércia entrou na sala pela primeira vez.  A sua expressão provocadora agradou alguns e espantou a outros. Eu fiquei meio entre os que se sentiram provocados. 


Natércia Porto, (sim, é esse o sobrenome que não  nega  sua nacionalidade), era dessas professoras que mais se preocupava com aprendizado do que com métodos. Criticada e elogiada, alternadamente, se mantinha firme.


Das melhores lembranças que trago, destaco o costume que ela tinha de declamar os poemas de Fernando Pessoa com a eloquência e propriedades impressas em seu olhar com a expressão de verdade que me ganhou. Me lembro do poema que ela declamou e que decorei no dia seguinte, que foi o bastante para eu gostar do tal poeta português. Descrevo o poema abaixo, como homenagem a ela.



Para ser grande, sê inteiro: nada
Teu exagera ou exclui.
Sê todo em cada coisa.
Põe quanto és
No mínimo que fazes.
Assim em cada lago a lua toda
Brilha, porque alta vive


Fernando Pessoa ( Ricardo Reis) 
Imagem de Vik Muniz, surrupiada aqui




05/07/2011

ruminações

Cobrar o que é de direito

Arrancar segredos, devolver sonhos
Recobrar a vida em dias de sol amarelo,
Realizar.

Fazer de novo a vida ser
Ver as manhãs trazendo o sol
Em manhãs de setembro,
Clarear.

Amanhecer o dia da vida em curso
Reconhecer-me no correr das horas
Preencher lacunas, reconstruir
Ser amante da liberdade.

Livre, liberto, viajante do amor
Amigo das estrelas e dos astros afins
Alegria de acordar, de ser gente
Livre pra fazer a vida ser.

Ver da vida o bom motivo de viver
Ser jovem pra sonhar, grande pra cumprir
Ser homem no agir e criança no sentir dos tempos,
Recomeçar.
*Foto minha 
Escrito em Goiânia, 14 de agosto de 2009.

01/07/2011

Esses mistérios eu não revelo

"Há muita reserva em mim. 

Coisas da fundura da minha alma interessam a pouca gente. Gente que não ficará apenas a redigir tratados de infelicidade e que talvez se preste a compor alguma música romântica.

Não! 

Não lucro nada com essas revelações. Prefiro o conforto da solidão da minha intimidade e o conforto da aspereza do meu anonimato. E amanhã, quando encontrar um poeta, um poeta de verdade, aí sim direi quem sou. Ou melhor, deixarei que sua poesia me desvende."
Gabriel Chalita
Imagem capturada aqui