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Minha vida vem se desenhando uma coleção de vazios e de ausências. Sim, tenho sido assombrado por ausências de toda sorte. A cada amanhecer, sinto-me cada vez mais só. Mas nem sempre a solidão é ruim. E nem sempre esse “status” me passa à razão. Muitas vezes, quando percebo, o dia já se foi. Eu apenas segui o passar das horas, levado pelo fluxo desse tempo, tantas vezes bipolar. Sim, o tempo também tem lá os seus devaneios, seus caprichos
Olho todo dia no espelho e percebo cada vez mais distante a imagem do que me fiz. Tenho me visto em fotografias borradas, fora de foco. Cada vez menos nítidas, os planos de fundo se confundem num horizonte torto, onde me valho de todos os artifícios para me equilibrar. Vontade de me fotografar todo dia, só pra tentar segurar uma imagem diária do que estou sendo, nesse ritmo, sem muitas perspectivas. E guardar algumas numa gaveta.
Coleciono cada sensção de vazio que
se aproxima de mim, me apego a esses vazios, espalho-os nos cantos da casa, com
todo o cuidado. Apego-me a eles, dando-lhes nome e sobrenome. Olho para eles de
manhã, como se me cumprimentassem com um “bom dia”, enquanto preparo meu café
forte. Respiro fundo e aceno como quem responde ao comando. Sigo a pé, rua
afora, com o sol já molhando meu rosto de suor.
Na cidade, vejo um frenesi de
barulho e movimento. As ruas estão cheias de gente sozinhas em seus carros, e
muita gente se espremendo no transporte público. Mas vejo pouca gente andando a
pé.
Tenho visto muita gente dormindo nas
calçadas. Paro, observo e roubo uma foto, me aproprio da sua solidão, do seu
desamparo, adiciono-os, em quadros – emoldurados, coloridos e borrados - à
minha coleção. Vejo meu vazio neles. Mostro isso para tantas pessoas, que cheias
de tantas “coisas”, nem sempre enxergam o vazio silencioso que toma conta de
toda a cidade, talvez, do país, do mundo...
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